As Igrejas Evangélicas Reformadas reconhecem, juntos com a grande maioria das Igrejas Cristãs, os três “Credos Ecumênicos”, a saber:

  • Credo Apostólico,
  • Credo de Nicéia(-Constantinopla)
  • Credo Atanasiano.

Além destes “credos”, mantemos oficialmente as seguintes duas confissões Reformadas:

  • Confissão Belga
  • Catecismo de Heidelberg.

Todas estas confissões oferecem um resumo daquilo que entendemos ser o essencial da fé cristã. Pois somos da opinião, que os autores destes escritos conseguiram formular neles de uma maneira curta, clara e equilibrada a mensagem central da Bíblia.

 

Credo Apostólico

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra.

E em Jesus Cristo, seu unigênito Filho, nosso Senhor; o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno; ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso; donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na santa Igreja de Cristo, a comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna.

 

Credo Niceno

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis.

E em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, nascido, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se fez carne pelo Espírito Santo na virgem Maria e se fez homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras, e subiu ao céu e está sentado à direita do Pai, e virá novamente com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim.

E no Espírito Santo, que é Senhor e Vivificador, o qual procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas. E em uma só santa Igreja universal e apostólica.

Confesso um só batismo para remissão dos pecados.

Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro.

Amém.

 

Credo Atanasiano

  1. Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deve manter a verdadeira fé cristã.
  2. Quem não a conservar na íntegra e inalterada, sem dúvida perecerá eternamente.
  3. Ora, a verdadeira fé cristã é esta: que honremos um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade.
  4. Sem confundir as Pessoas ou dividir a substância.
  5. Pois uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo.
  6. Mas uma só é a Divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, iguais em glória e da mesma majestade eterna.
  7. Qual o Pai, tal o Filho e tal o Espírito Santo.
  8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.
  9. O Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Espírito Santo é incomensurável.
  10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.
  11. Contudo não são três eternos, mas um só Eterno.
  12. Como também não são três incriados, nem três incomensuráveis, mas um só Incriado e um só Incomensurável.
  13. Da mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso.
  14. Contudo não são três todo-poderosos, mas um só Todo-poderoso.
  15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
  16. Contudo não são três Deuses, mas um só Deus.
  17. Assim, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor.
  18. Contudo não são três Senhores, mas um só Senhor.
  19. Pois, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar cada Pessoa em particular como sendo Deus e Senhor, assim somos proibidos pela fé cristã de falar de três Deuses ou Senhores.
  20. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.
  21. O Filho não foi feito, nem criado, mas gerado, somente pelo Pai.
  22. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e pelo Filho, mas procede dEles.
  23. Logo, um só Pai, não três Pais, um só Filho, não três Filhos, um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
  24. E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor, mas todas as três Pessoas são juntamente eternas e iguais entre si.
  25. De modo que, como acima já foi dito, em tudo deve ser honrada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade.
  26. Portanto, quem quiser ser salvo, deve pensar assim da Trindade.
  27. Entretanto, é necessário para a eterna salvação que creia também fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
  28. Logo, a fé correta é que creiamos e confessemos, que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus tanto quanto homem.
  29. É Deus da substância do Pai, gerado antes dos tempos, e homem da substância de sua mãe, nascido no tempo.
  30. Plenamente Deus, plenamente homem, subsistindo em alma racional e carne humana.
  31. Igual ao Pai segundo a sua divindade, menor do que o Pai segundo a sua humanidade.
  32. Embora sendo Deus e homem, nem por isso é dois, mas um só Cristo.
  33. Um só, porém, não porque a divindade se converteu em carne, mas porque Deus assumiu a humanidade.
  34. Um só, não por fusão de substâncias, mas por unidade de pessoa.
  35. Pois, assim como alma racional e carne são um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo.
  36. O qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos,
  37. Subiu ao céu, está sentado à direita do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
  38. E na sua vinda, todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e dar contas dos seus próprios atos.
  39. E aqueles que fizeram o bem, irão para a vida eterna, os que fizeram o mal, para o fogo eterno.
  40. Esta é a verdadeira fé cristã, e quem não nela crer com fidelidade e firmeza, não poderá ser salvo.

 

 

CONFISSÃO BELGA

Artigo 1 – O único Deus

Cremos todos com o coração e confessamos com a boca que há um único e simples ser espiritual, a quem chamamos Deus: eterno, insondável, invisível, imutável, infinito, onipotente, completamente sábio, justo e bom e uma fonte sobremodo abundante de todo o bem.

Artigo 2 – Como conhecemos a Deus

Conhecemos a Deus de duas maneiras. Primeiramente através da criação, manutenção e governo do mundo todo, pois este é aos nossos olhos como um livro maravilhoso, no qual todas as criaturas, grandes ou pequenas, são as letras que nos mostram o que dele não pode ser visto, a saber, o seu eterno poder e divindade, conforme o apóstolo Paulo diz em Romanos 1.20. Todas estas coisas são suficientes para convencer as pessoas e tirar-lhes toda desculpa.

Em segundo lugar e de forma ainda mais clara e completa, Ele se nos dá a conhecer através da sua santa e divina palavra, tanto quanto isto é necessário para nós nesta vida para a sua glória e para a salvação dos seus.

Artigo 3 – A Palavra de Deus

Confessamos que esta Palavra de Deus não foi dada por vontade humana, mas que homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo, conforme Pedro diz em 2 Pedro 1.21. Após isto Deus, em seu cuidado especial por nós e nossa salvação, mandou que seus servos, os profetas e apóstolos, escrevessem a sua palavra revelada e Ele próprio escreveu com o seu dedo as duas tábuas da lei. Por esta razão chamamos a tais escritos divinas Escrituras Sagradas.

Artigo 4 – Os Livros Canônicos das Escrituras Sagradas

Entendemos como Escrituras Sagradas as duas partes, o Antigo e o Novo Testamento; estes são os livros canônicos, contra os quais não há objeção de qualquer espécie.

A igreja de Deus reco-nhece os seguintes, entre aqueles do Antigo Testa-mento: os cinco livros de Moisés, a saber, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, os Salmos de Davi, os três livros de Salomão, a saber, Provérbios, Eclesiastes e Cantares; os quatro profetas maiores, Isaías, Jeremias (inclusive as Lamentações de Jeremias), Ezequiel e Daniel; e a seguir os doze profetas menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

Os livros do Novo Testa-mento: os quatro Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas, João; os Atos dos Apóstolos; as quatorze epístolas do apóstolo Paulo, a saber, aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito, a Filemom, aos Hebreus; as sete epístolas dos outros apóstolos, a saber, a epístola de Tiago, duas de Pedro, três de João, a epístola de Judas; o Apocalipse do apóstolo João.

Artigo 5 – A autoridade das Escrituras Sagradas

Aceitamos todos estes livros, e apenas estes, como sagrados e canônicos para dirigir, fundamentar a nossa fé. E cremos, sem duvidar, em tudo o que neles está escrito e não tanto porque a igreja os aceita e reconhece como tais, mas sobretudo porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles são de Deus .

Possuem estes livros também a prova disto em si, pois mesmo cegos podem tatear que as coisas neles preditas acontecem.

Artigo 6 – A distinção entre os livros canônicos e apócrifos

Distinguimos estes livros sagrados dos apócrifos, a saber, o terceiro e quarto livros de Esdras (*), o livro de Tobias, Judite, a Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc, as adições ao livro de Ester, o Cântico dos Três Jovens, a História de Susana, Bel e o Dragão, a Oração de Manassés e os dois livros dos Macabeus.

A igreja pode lê-los e tirar deles ensino na medida em que há concordância destes com os livros canônicos, porém não possuem força e autoridade tais que pelo testemunho deles se pudesse confirmar algum artigo da fé ou da religião cristã e muito menos que pudessem diminuir a autoridade dos outros livros sagrados.

Artigo 7 – A perfeição das Escrituras Sagradas

Cremos que estas Escrituras Sagradas contêm plenamente a vontade de Deus e que tudo que o homem deve crer para ser salvo nelas está suficientemente ensinado.

Visto que toda a forma de culto que Deus nos exige está nelas amplamente descrita, não é permitido aos homens, mesmo que fossem apóstolos, ensinar de outra forma do que nos ensinam as Escrituras Sagradas e até mesmo se fosse um anjo vindo do céu, como o apóstolo Paulo diz em Gálatas 1.8. É proibido acrescentar ou tirar qualquer coisa da palavra de Deus ( Dt. 12.32 ), manifestando-se assim que o que nela se ensina é perfeitíssimo e completo em todos os sentidos.

Também não se pode equiparar escrituras de homens, por mais santos que tenham sido, às Escrituras divinas, nem o costume à verdade de Deus – pois a verdade está acima de tudo – e nem considerar o grande número, a antiguidade, a sucessão ininterrupta de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos e resoluções. Pois todos os homens são em si mentirosos e mais leves que um sopro (*) .Por isso, rejeitamos sinceramente tudo aquilo que não concorde com esta regra infalível, segundo os apóstolos nos ensinaram: provai os espíritos se procedem de Deus (1 Jo 4.1). E ainda: se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa (2 Jo 1.10).

Artigo 8 – A Santíssima Trindade

Segundo esta verdade e esta Palavra de Deus, cremos num único Deus, Ser único no qual há três Pessoas que desde a eternidade estão de fato e verdadeiramente distintas quanto aos seus atributos incomunicáveis, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas, tanto as visíveis quanto as invisíveis. O Filho é o Verbo, a sabedoria e a imagem do Pai. O Espírito Santo é a força e o poder eternos que procedem do Pai e do Filho.

Esta distinção não implica no entanto que Deus está dividido em três partes, visto que as Escrituras nos ensinam que o Pai e o Filho e o Espírito Santo existem cada um por Si próprio com seus atributos distintos, mas de tal forma que estas três Pessoas são apenas um único Deus. Está claro, portanto, que o Pai não é o Filho e o Filho não é o Pai; da mesma forma, que o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. Entretanto, estas Pessoas, assim distintas, não estão divididas nem confundidas. Pois o Pai não se fez carne nem tampouco o Espírito Santo, mas apenas o Filho. O Pai nunca esteve sem o seu Filho nem sem o seu Espírito Santo, pois Eles são os três da mesma eternidade num mesmo ser. Não há primeiro ou último, pois Eles são os três Um só em verdade, em poder, em bondade e misericórdia.

Artigo 9 – O testemunho das Escrituras a respeito desta doutrina.

Sabemos tudo isto tanto através do testemunho das Escrituras Sagradas como pelas ações destas Pessoas, principalmente aquelas que sentimos em nós. Os teste-munhos das Sagradas Escrituras que nos ensinam a crer nesta Santíssima Trindade, estão escritos em muitas passagens do Antigo Testamento e não será necessário enumerá-las todas mas apenas escolhê-las criteriosamente.

Em Gênesis 1.26,27 Deus diz: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança, etc. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, homem e mulher os criou. Da mesma forma, em Gênesis 3.22: Eis que o homem se tornou como um de Nós. Isto demonstra que há mais de uma Pessoa na Divindade, pois Ele diz: Façamos o homem à nossa imagem, indicando a seguir a unidade quando diz: Deus criou. É verdade que Ele não diz quantas Pessoas há, mas o que para nós permanece um tanto obscuro no Antigo Testamento, torna-se muito claro no Novo. Pois quando o nosso Senhor foi batizado no Jordão, ouviu-se a voz do Pai, dizendo: Este é o meu Filho amado (Mt 3.17); o Filho foi visto na água e o Espírito Santo se revelou na forma de uma pomba.

Além disto, Cristo instituiu para o batismo de todos os que crêem esta forma: Batizai todas as nações em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). No evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel fala a Maria, mãe do Senhor, da seguinte forma: Descerá sobre ti, o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado filho de Deus (Lc. 1.35). Também: a graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós (2 Co 13.13). E: Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um (1 Jo 5.7). Em todas estas passagens nos é claramente ensinado que existem três Pessoas em um único Ser divino. E se bem que esta doutrina ultrapasse em muito o entendimento humano, nós a cremos agora baseados na Palavra, aguardando o gozo do seu pleno conhecimento e fruto no céu. Além disso, devemos atentar também na ação particular de cada uma dessas três Pessoas para conosco: o Pai é chamado o nosso Criador pela sua força; o Filho é o nosso Salvador e Redentor pelo seu sangue; o Espírito Santo é o nosso Santificador porque habita em nossos corações.

Esta doutrina da Santíssima Trindade sempre tem sido mantida na verdadeira Igreja, desde os tempos dos apóstolos até hoje, diante dos judeus, muçulmanos, falsos cristãos e hereges, tais como Marcião, Mani, Praxéias, Sabélio, Paulo de Samosata, Ário e outros, que foram condenados com razão pelos santos pais. Por isto, aceitamos nesta matéria de bom grado as três confissões de fé, a saber, o Credo Apostólico, o Niceno e o Atanasiano, bem como o que os pais estabeleceram em concordância com estas confissões.

Artigo 10 – A divindade de Jesus Cristo

Cremos que Jesus Cristo, segundo sua natureza divina, é o Filho unigênito de Deus, gerado desde a eternidade, não feito nem criado – pois então seria uma criatura – mas de uma só substância como o Pai, co-eterno, a expressão exata do ser do Pai e o resplendor da sua glória (Hb. 1.3), igual a Ele em tudo (Fp 2.6). Ele é o Filho de Deus, não somente desde que Ele assumiu nossa natureza, mas desde toda a eternidade, segundo os seguintes testemunhos nos ensinam ao serem comparados entre si. Moisés diz que Deus criou o mundo (Gn 1.1) e São João diz que todas as coisas foram criadas por intermédio do Verbo, a quem ele chama Deus (Jo 1.3); o apóstolo diz que Deus criou o mundo pelo seu Filho (Hb 1.2) e ainda que Deus criou todas as coisas por Jesus Cristo (Cl 1.16). Portanto Ele, que é chamado Deus, o Verbo, o Filho e Jesus Cristo, já deve ter existido quando todas as coisas foram por Ele criadas. O profeta Miquéias diz portanto: suas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Mq 5.2). E o apóstolo: Ele não teve princípio de dias, nem fim de existência (Hb 7.3). Assim Ele é o verdadeiro e eterno Deus, o Todo-poderoso, a quem invocamos, adoramos e servimos.

Artigo 11 – A divindade do Espírito Santo

Cremos e confessamos que o Espírito Santo procede desde a eternidade do Pai e do Filho. Ele não foi feito ou criado e tampouco gerado, mas apenas procede de ambos.

Quanto à ordem, Ele é a terceira Pessoa da Trindade, de uma mesma substância, majestade e glória que o Pai e o Filho, verdadeiro e eterno Deus, segundo as Sagradas Escrituras nos ensinam.

Artigo 12 – A criação do mundo e os anjos

Cremos que o Pai, através da sua Palavra, isto é, do seu Filho, criou o céu, a terra e todas as criaturas a partir do nada quando Lhe aprouve, dando a cada uma das criaturas o seu ser e sua forma e aparência e a cada uma a sua própria função para servir ao seu Criador.

Cremos que Ele também as mantém e governa ainda agora a todas elas segundo a sua providência eterna e pela sua força infinita, para que elas sirvam ao homem, a fim de que o homem sirva ao seu Deus. Ele criou também os anjos como seres bons para serem seus mensageiros e para servirem aos seus eleitos. Deste estado sublime no qual Deus os criara, alguns destes anjos caíram na eterna perdição, mas os outros perseveraram pela graça de Deus e permaneceram em seu estado original. Os diabos e os demônios são de tal modo corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem. Com todas as suas forças espreitam a Igreja e cada um dos seus membros feitos salteadores para arrasar e destruir tudo através de ardis e falsidades. Por isso estão condenados pela sua própria maldade para a condenação eterna, aguardando diariamente suas terríveis torturas. E quanto a isto, abominaremos os erros dos saduceus, que negam a existência de espíritos e anjos, e também o erro dos maniqueístas que afirmam que os diabos se originaram por si próprios e são maus por natureza e não que se tornaram corrompidos.

Artigo 13 – A providência divina

Cremos que este bom Deus, após ter criado todas as coisas, não as deixou entregues a si mesmas ou as abandonou ao acaso ou à sua sorte, mas as dirige e governa segundo a sua santa vontade e de tal forma que nada neste mundo acontece sem a sua determinação. Todavia, Deus não é o autor nem o culpado do pecado que se faz. Pois o seu poder e bondade são tão grandes e inconcebíveis que Ele determina e executa a sua obra sobremodo bem e justo, mesmo que os diabos e ímpios ajam injustamente. E aquilo que Ele faz além da compreensão do entendimento humano, não queremos investigar curiosamente além do alcance da nossa compreensão. Mas adoramos com toda a humildade e reverência os justos juízos de Deus que nos estão ocultos e nos damos por satisfeitos por sermos discípulos de Cristo, para apenas aprender aquilo que Ele nos ensina através da sua Palavra, sem que ultrapassemos estes limites. Esta doutrina nos oferece consolo indizível quando através dela aprendemos que nada nos poderá acontecer por acaso, mas apenas pela determinação do nosso bondoso Pai celeste. Ele vela por nós com cuidado paternal enquanto governa de tal forma todas as criaturas que nenhum fio de cabelo cairá da nossa cabeça – pois todos eles estão contados – e nenhum pardalzinho cairá por terra sem a vontade de nosso Pai (Mt 10.29,30). Confiamos nisto pois sabemos que Ele refreia os diabos e todos os nossos inimigos e que eles não nos podem prejudicar sem a sua permissão e vontade.

Por isso rejeitamos o erro abominável dos epicureus que dizem que Deus não se envolve com nada e que Ele deixa tudo ao acaso.

Artigo 14 – A criação do homem; a queda e suas conseqüências

Cremos que Deus criou o homem do pó da terra e o fez e formou segundo a sua imagem e semelhança: bom, justo e santo, de tal forma que com a sua vontade podia corresponder em tudo com a vontade de Deus. Porém quando o homem estava naquele estado sublime, ele não o compreendeu nem reconheceu a sua posição privilegiada mas se subjugou conscientemente ao pecado e conseqüentemente à morte e à maldição, dando ouvidos às palavras do diabo. Porque o mandamento da vida que recebera, o homem o transgrediu e pelo pecado se desgarrou de Deus, que era a sua vida verdadeira. Assim, corrompeu toda a sua natureza e mereceu desta forma a morte física e espiritual. Como se tornou ímpio, errado e corrupto em todo seu modo de viver, o homem perdeu todos os excelentes dons que recebera de Deus. Não lhe restou nada disso a não ser débeis traços que, no entanto, são suficientes para tirar-lhe toda desculpa.

Toda a luz em nós se transformou em escuridão, segundo nos ensinam as Escrituras: a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela (Jo 1.5), onde João chama os homens de trevas. Por isso, rejeitamos tudo aquilo que se ensina contrariamente a respeito do livre arbítrio do homem, visto que o homem nada mais é que um escravo do pecado e não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada (Jo 3.27). Pois quem se vangloriará de poder fazer algo de bom por força própria, visto que Cristo diz: Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o trouxer (Jo 6.44)? Quem se gabará da sua própria vontade quando sabe que o pendor da carne é inimizade contra Deus (Rm 8.7)? Quem fará menção do seu próprio conhecimento quando entende que o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus (1 Co 2.14)? Resumindo, quem irá apresentar um único pensamento sequer quando sabe que por nós mesmos não somos capazes de pensar alguma coisa, mas que a nossa capacidade vem de Deus (2 Co 3.5)?

Por esta razão a palavra do apóstolo deve permanecer inabalável para nós, que Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). Pois não há conhecimento ou vontade que esteja de acordo com os de Deus, que Cristo não operasse no homem, segundo ele nos ensina com as palavras: sem Mim nada podeis fazer (Jo 15.5).

Artigo 15 – O pecado original

Cremos que pela desobediência de Adão o pecado original se propagou por toda a raça humana; é uma corrupção de toda a natureza e um mal hereditário com o qual mesmo os pequenos no ventre materno já estão contaminados e que é a raiz da qual brotam todas as espécies de pecados do homem. Por esta razão o pecado original é tão terrível e abominável para Deus, que se constitui motivo suficiente para condenar a raça humana. Ele não é

totalmente anulado ou extirpado pelo batismo, visto que o pecado sempre jorra desta corrupção como água que mana de uma fonte venenosa. Aos filhos de Deus, no entanto, ele não é levado em conta para sua condenação, mas lhes é perdoado pela sua graça e misericórdia, não para que durmam tranqüilamente no pecado mas para que aqueles que crêem, conscientes desta corrupção, gemam muitas vezes aspirando a libertação do corpo, o qual está no poder da morte (Rm 7.24). Com isso rejeitamos o erro dos pelagianos que dizem que este pecado se origina apenas pela imitação.

Artigo 16 – A predestinação divina

Cremos que, quando toda a raça humana se lançara na corrupção e perdição através do pecado do primeiro homem, Deus se mostrou como é, misericordioso e justo. Misericordioso, por retirar e salvar desta corrupção aqueles que Ele em seu eterno e imutável conselho e por mera bondade escolheu em Jesus Cristo, nosso Senhor, sem levar em consideração qualquer das suas obras. Justo por deixar os outros na queda e na corrupção, nas quais eles mesmos se lançaram.

Artigo 17 – O Redentor prometido por Deus

Cremos que o nosso bondoso Deus, ao ver que o homem se lançara assim na morte física e espiritual e se tornara completamente desgraçado, veio pessoalmente buscar o homem em sua maravilhosa sabedoria e bondade quando este havia de nascer de mulher (Gl 4.4) para esmagar a cabaça da serpente (Gn 3.15) e para tornar bem-aventurado o homem.

Artigo 18 – A Humanação do Filho de Deus

Confessamos, pois, que a promessa que Deus fizera aos pais pela boca dos seus santos profetas, Ele a cumpriu, enviando ao mundo o seu próprio unigênito e eterno Filho, no tempo por Ele determinado. Este assumiu a forma de servo tornando-se semelhante aos homens (Fp 2.7) ao tomar realmente uma verdadeira natureza humana com todas as suas fraquezas, porém sem pecado. Foi concebido no ventre da bem-aventurada virgem Maria pelo poder do Espírito Santo, sem intervenção de um homem. Não apenas assumiu a natureza humana quanto ao aspecto físico mas também uma alma verdadeiramente humana para se tornar realmente homem. Pois estando a alma tão perdida quanto o corpo, Ele teve que assumir ambos para salvar a ambos.

Em oposição à heresia dos anabatistas, os quais negam que Cristo assumiu um corpo humano de sua mãe, confessamos portanto que Ele participou da carne e sangue dos filhos (Hb 2.14), que Ele é descendente de Davi (At 2.30) segundo a carne (Rm 1.3), fruto do ventre de Maria (Lc 1.42), nascido de mulher (Gl 4.4), renovo de Davi (Jr 33.15), rebento do tronco de Jessé (Is 11.1), procedente de Judá (Hb 7.14), descendente dos judeus segundo a carne (Rm 9.5): da descendência de Abraão, visto que assumiu a descendência de Abraão, tornando-se semelhante aos irmãos em todas as coisas, mas sem pecado (Hb 2.17 e 4.15). assim, Ele verdadeiramente é o nosso Emanuel, isto é, Deus conosco (Mt 1.23).

Artigo 19 – As duas naturezas de Cristo

Cremos que por esta concepção a Pessoa do Filho está inseparavelmente unida e ligada à natureza humana, de forma que não existem dois filhos de Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas unidas numa Pessoa, conservando cada natureza as suas propriedades distintas. Da mesma forma que a natureza divina sempre permaneceu incriada, sem princípios de dias ou fim de existência (Hb 7.3), enchendo a terra e o céu, assim também a natureza humana não perdeu suas propriedades, permanecendo criatura, a qual tem princípio de dias, é finita e conserva tudo o que é próprio de um verdadeiro corpo. E ainda que, por meio da sua ressurreição, tenha lhe concedido imortalidade, Ele não modificou a realidade da sua natureza humana, uma vez que a nossa salvação e a nossa ressurreição dependem também da realidade do seu corpo. Mas estas duas naturezas estão de tal forma unidas em uma Pessoa, que mesmo por sua morte não foram separadas. Assim aquilo que Ele, morrendo, entregou nas mãos do seu Pai, era um espírito verdadeiramente humano, que deixou seu corpo, mas ao mesmo tempo a natureza divina permaneceu sempre unida com a humana, também quando Ele jazia no sepulcro. A Divindade não cessou de estar nEle, da mesma forma que estava nEle quando era menino, embora não se manifestasse por curto espaço de tempo. Por isso confessamos que Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem; verdadeiro Deus para vencer a morte por sua força e verdadeiro homem para poder morrer por nós na fraqueza da sua carne.

Artigo 20 – A justiça e misericórdia de Deus na reconciliação

Cremos que Deus, que é completamente misericordioso e justo, enviou o seu Filho para que assumisse a natureza na qual se cometera a desobediência e nela oferecer satisfação e suportar o castigo pelos pecados através do seu sofrimento e morte extremamente amargos. Assim Deus manifestou a sua justiça contra o seu Filho, colocando sobre Ele o fardo dos nossos pecados, e derramou a sua bondade e misericórdia sobre nós , que éramos culpados e merecedores da maldição eterna, entregando em perfeito amor seu Filho à morte por nós e ressuscitando-O por ca-usa da nossa justificação, para que tivéssemos imortalidade e vida eterna através dEle.

Artigo 21 – A reconciliação por Cristo

Cremos que Jesus Cristo é um eterno Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, o que Deus confirmou com juramento (Hb 7.21). Ele Se pôs a Si mesmo perante seu Pai em nosso nome para aplacar a sua ira com perfeita expiação, oferecendo-Se a Si mesmo como sacrifício na cruz e derramando seu precioso sangue para a purificação dos nossos pecados, segundo os profetas predisseram. Pois está escrito que o castigo que nos traz a paz estava sobre o Filho de Deus e que pelas suas pisaduras fomos sarados; que como cordeiro foi levado ao matadouro e foi contado com os transgressores (Is 53.5,7,12), e como criminoso foi condenado por Pôncio Pilatos, embora este O tivesse declarado inocente. Assim Ele restituiu o que não furtara (Sl 69.4) e sendo justo sofreu pelos injustos (1 Pe 3.18); e isto tanto em seu corpo como em sua alma, de forma que Ele sentia o terrível castigo que nós merecíamos pelos nossos pecados e o seu suor se tornava como gotas de sangue caindo sobre a terra (Lc 22.44). Ele clamou: Deus meu, Deus meu, por que Me desamparaste? (Mt 27.46) e sofreu tudo isto por causa do perdão dos nossos pecados. Por isso fazemos com razão nossas as palavras de Paulo, que nada sabemos senão a Jesus Cristo, e este crucificado (1 Co 2.2), e consideramos todas as coisas como refugo, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, nosso Senhor (Fp 3.8). Em seus ferimentos encontramos todo o consolo e não necessitamos procurar ou conceber qualquer outro meio para nos reconciliar com deus além deste único sacrifício, oferecido uma vez por todas, e que aperfeiçoa para sempre os que crêem (Hb 10.14). Essa também é a razão por que o anjo de Deus chamou-O Jesus, isto é, Salvador, porque Ele salvaria o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21).

Artigo 22 – A justificação pela fé

Cremos que o Espírito Santo, para nós recebermos o verdadeiro conhecimento deste grande mistério, acende em nossos corações uma fé verdadeira, que abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, apropriando-se dEle e não buscando mais nada além dEle. Pois há apenas duas alternativas: ou em Jesus não há tudo que é necessário para a nossa salvação, ou então tudo isso existe realmente nEle de forma que a pessoa que possui a Jesus Cristo pela fé, tem a completa salvação. Afirmar que Cristo não é suficiente e que além dEle necessitamos de algo mais, é uma blasfêmia abominável, pois resultaria, assim, que Cristo é apenas meio Salvador. Por isso e com razão fazemos nossas as palavras de Paulo, que somos justificados apenas pela fé ou pela fé independentemente das obras (Rm 3.28). Porém, para nos expressar corretamente, não queremos dizer que a própria fé nos salve, pois é apenas um meio com o qual abraçamos Cristo, nossa justiça.

Mas Jesus Cristo é a nossa justiça, pois Ele nos atribui todos os seus méritos e suas obras que Ele fez por nós e em nosso lugar; e a fé é o meio que nos mantém unidos a Ele na comunhão de todos os seus tesouros e dons. Quando estes se tornaram nossos, são mais do que suficientes para nos absolver dos pecados.

Artigo 23 – Nossa justiça perante Deus

Cremos que a nossa bem-aventurança está no perdão dos nossos pecados por causa de Jesus Cristo e que nisto consiste a nossa justiça perante Deus. Assim nos ensinam Davi e Paulo quando declaram: Bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça, independentemente de obras (Sl 32.2, Rm 4.6). E o mesmo apóstolo diz que somos justificados gratuitamente, ou seja, pela graça, mediante a redenção que há em Jesus Cristo (Rm 3.24).

Por isso perseveramos neste fundamento, dando toda a glória a Deus e nos humilhando e confessando o que somos, sem nos vangloriarmos em nada de nós mesmos ou dos nossos méritos, mas nos apoiamos e descansamos somente na obediência do Cristo crucificado. Esta obediência é nossa ao crermos nEle e é o suficiente para cobrir todas as nossas iniqüidades, nos dar certeza e libertar a consciência de temor, espanto e terror, de forma que nos aproximamos de Deus sem fazer como o nosso primeiro pai Adão que, tremendo, tentava se cobrir com folhas de figueira. De fato, caso tivéssemos que aparecer diante de Deus, apoiando-nos, por pouco que fosse, em nós mesmos ou em qualquer outra criatura, ai de nós, pois pereceríamos. Por isso cada um de nós deve fazer suas as palavras de Davi: Ó Senhor, não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivendo (Sl 143.2).

Artigo 24 – Santificação e boas obras

Cremos que esta verdadeira fé, gerada no homem pela pregação da Palavra de Deus e pela atuação do Espírito Santo, o faz renascer e o torna novo homem; faz vivê-lo, vida nova e o liberta da escravidão do pecado. Por isso, é impossível que esta fé justificadora faça os homens indiferentes a uma vida piedosa e santa. Pelo contrário, sem esta fé eles nunca farão qualquer coisa por amor a Deus, mas apenas por amor deles próprios e pelo temor de serem condenado. É, portanto, impossível que esta fé seja inoperante no homem, pois não falamos de uma fé estéril, mas de uma fé da qual as escrituras dizem, que atua pelo amor (Gl 5.6), e que leva o homem a se exercitar nas obras as quais Deus ordenou em sua palavra; estas obras, quando brotam da boa raiz da fé, são boas e agradáveis a Deus, visto que são todas santificadas pela sua graça. entretanto, não valem para a nossa justificação, pois pela fé

em Cristo somos justificados, mesmo antes de nós fazermos boas obras. Caso contrário, não poderiam ser boas, da mesma forma que o fruto de uma árvore não pode ser bom se antes a árvore não for boa. Fazemos, pois, boas obras, mas não por mérito, pois que méritos conseguiríamos? Somos antes devedores de Deus pelas boas obras que fazemos, e não eEle devedor de nós. Porque Ele é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). Por isso, prestemos atenção naquilo que está escrito: Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer (Lc 17.10). Não queremos negar que Deus recompensa as boas obras, mas pela sua graça ele coroa seus dons. E ainda, mesmo que façamos boas obras, não fazemos destas o fundamento da nossa salvação, pois não podemos fazer obra alguma que não seja maculada pela nossa natureza pecaminosa e merecedora de castigo. Ainda que pudéssemos apresentar uma só boa obra, um pensamento pecaminoso nela é o suficiente para torná-la reprovável aos olhos de Deus. Desta forma estaríamos sempre em dúvida, agitados sem qualquer certeza, e as nossas pobres consciências seriam sempre atormentadas, caso não se apoiassem no mérito do sofrimento e morte do nosso Salvador.

Artigo 25 – A lei cumprida em Cristo

Cremos que as cerimônias e prefigurações da lei terminaram com a vinda de Cristo e que chegou o fim para todas as sombras, de forma que o seu uso deve ser abolido entre os cristãos. Entretanto, as suas verdades e o seu conteúdo permanecem para nós em Cristo Jesus, no qual foram cumpridas. E ainda usamos os testemunhos da Lei e dos Profetas para confirmar a nossa fé no Evangelho e também para dirigir as nossas vidas em toda a decência para a glória de Deus e conforme a sua vontade.

Artigo 26 – Cristo, o nosso Advogado

Cremos que não temos acesso a Deus a não ser através do único Mediador e Advogado, Jesus Cristo, o justo. Ele se tornou homem e uniu as naturezas divinas e humana, para que nós homens tivéssemos acesso à majestade divina, pois, de outra forma, o acesso estaria vedado para nós. Porém, este Mediador, que o Pai constituiu entre si e nós, não deve assustar-nos devido a sua grandeza, fazendo com que procurássemos um outro conforme bem entendêssemos. Pois não há ninguém no céu ou na terra entre as criaturas que mais nos ame que Jesus Cristo que, embora subsistindo em forma de Deus, a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo para nós, e em todas as coisas Se tornou semelhante aos irmãos (Fp 2.6,7; Hb 2.17). Caso tivéssemos que buscar outro intercessor que nos fosse favorável, quem encontraríamos que mais nos amasse que Ele, que deu sua vida por nós, ainda quando nós éramos inimigos (Rm 5.8,10)? E caso busquemos alguém que tenha poder e honra, quem os teria tanto quanto Ele, que está sentado à direita do seu Pai e que detém toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28.18)? E quem será ouvido antes que o próprio Filho amado de Deus? Portanto, é apenas desconfiança que levou ao costume de desonrar os santos em vez de honrá

-los, pois faz-se o que estes nunca fizeram ou desejaram mas rejeitaram constantemente conforme era seu dever, segundo mostram os seus escritos. Não se deve alegar que somos indignos, pois de forma alguma apresentamos as nossas orações a Deus baseados em nossa dignidade, porém apenas pela excelência e dignidade do nosso Senhor Jesus Cristo, cuja justiça é nossa pela fé. Por isso o apóstolo nos diz, quando quer retirar de nós este temor tolo, ou melhor, esta desconfiança, que Jesus Cristo se tornou semelhante aos irmãos em todas as coisas, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados (Hb 2.17,18). E depois, para encorajar-nos mais ainda vir a Ele, diz: Tendo pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna (Hb 4.14-16). O mesmo apóstolo diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus; aproximemo-nos, pois, em plena certeza de fé (Hb 10.19,22). Da mesma forma: Cristo tem o seu sacerdócio imutável; por isso também pode salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles (Hb 7.24,25). O que nos falta então, se Cristo mesmo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim (Jo 14.6). Por que procuraríamos um outro advogado, visto que aprouve a Deus dar-nos seu Filho como Advogado? Não O abandonemos para tomar outro, ou melhor, para buscar outro sem nunca achá-lo; pois quando Deus O deu a nós, sabia perfeitamente que éramos pecadores. Por isso invocamos o Pai celeste por intermédio de Cristo, nosso único Mediador, conforme o mandamento de Cristo, segundo nos foi ensinado na oração dominical. E estamos certos que o Pai nos dará tudo o que Lhe pedirmos em nome de Cristo (Jo 16.23).

Artigo27 – A Igreja católica ou universal

Cremos e confessamos uma única Igreja católica ou universal. Ela é uma santa congregação dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus Cristo, tendo sido lavados pelo seu sangue, santificados e selados pelo Espírito Santo. Esta igreja tem existido desde o começo do mundo e existirá até o seu fim; pois Cristo é um Rei eterno, que não pode estar sem súditos. Esta santa Igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo todo, embora às vezes seja diminuta por um tempo e aos olhos dos homens pareça que foi reduzida a nada. Assim, durante a época perigosa sob Acabe, Deus guardou para si sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal. Esta santa Igreja também está situada, presa ou delimitada a um determinado lugar ou ligada a certas pessoas, mas está difundida e espalhada por todo o mundo e mesmo assim ajuntada e unida, sendo um só coração e uma só vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé.

Artigo 28 – A comunhão com a Igreja

Visto que esta congregação santa é a reunião daqueles que serão salvos e que fora dela não há salvação, cremos que ninguém, independente de sua posição ou outras qualidades, pode se manter afastado dela e ser auto-suficiente. Mas todos deverão se ajuntar e se reunir a ela para guardar a unidade da Igreja, subjugando-se ao seu ensino e disciplina, curvando suas cabeças sob o jugo de Jesus Cristo e servindo aos irmãos na edificação de sua fé segundo os dons concedidos por Deus a cada um, sendo todos juntos membros de um mesmo corpo.

Para observar melhor tudo isso, todos os que crêem devem se separar daqueles que não pertencem à Igreja, conforme a Palavra de Deus, e se unir a esta congregação em todo local onde Deus a tenha estabelecido, mesmo que as autoridades e as ordens dos reis se opusessem ou pesasse sobre isso a morte ou castigos físicos. Por isso, todos aqueles que se separam dela ou deixam de se unir a ela, agem contrariamente à ordem de Deus.

Artigo 29 – As marcas distintivas da verdadeira Igreja

Cremos que deve-se distinguir com grande cuidado e sabedoria qual é a verdadeira Igreja, baseando-se na palavra de Deus, visto que todas as seitas que existem atualmente no mundo, denominam-se injustamente igreja. Não falamos aqui dos hipócritas que se misturam entre os bons na Igreja sem, porém, pertencer à Igreja, embora fisicamente estejam nela. Mas queremos dizer que o corpo e a comunhão da verdadeira Igreja devem ser distinguidos de todas as seitas que afirmam que são a Igreja. As marcas distintivas pelas quais se reconhece a Igreja verdadeira, são estas: a Igreja realiza a pregação pura do evangelho; ela mantém a administração pura dos sacramentos segundo Cristo os instituiu; ela exerce a disciplina eclesiástica para castigar os pecadores; em suma, a igreja se orienta pela pura Palavra de Deus, rejeitando todas as coisas que conflitam com esta Palavra e reconhecendo Jesus Cristo como único Cabeça. Nisso se reconhece com certeza a verdadeira Igreja e ninguém tem o direito de se separar dela.

Quanto àqueles que pertencem à Igreja, podem ser reconhecidos pelas marcas distintivas dos cristãos, a saber, a fé e que, após terem aceito o único Salvador Jesus Cristo, fogem do pecado e perseguem a justiça, amam ao verdadeiro Deus e ao próximo, não se desviam para a direita ou para a esquerda e crucificam a carne com suas obras. Não como se neles já não existisse uma grande fraqueza, porém lutam contra ela todos os dias da sua vida, pelo Espírito, enquanto sempre buscam socorro no sangue, na morte, no sofrimento e na obediência do Senhor Jesus, no qual têm perdão dos pecados pela fé.

E quanto à falsa igreja: essa arroga a si mesma e às suas ordenações mais autoridade do que atribui à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo; ela não administra os sacramentos segundo Cristo ordenou em sua Palavra, mas lhe acrescenta e lhe tira conforme bem entende; ela se fundamenta mais nos homens que em Cristo; ela persegue aqueles que vivem santamente segundo a Palavra de Deus e que a repreendem pelos seus pecados, amor ao dinheiro e idolatria.

Estas duas igrejas são facilmente reconhecíveis e distinguíveis.

Artigo 30 – O governo da Igreja

Cremos que esta verdadeira Igreja deve ser governada em consonância com a ordem espiritual que o nosso Senhor nos ensinou em sua Palavra, a saber, que deve haver ministros ou pastores para pregar a Palavra de Deus e administrar os sacramentos, e supervisores e diáconos, para que junto com os pastores formem o conselho da Igreja, e que assim mantenham a verdadeira religião e façam com que a verdadeira doutrina se propague, que os transgressores sejam repreendidos e refreados de forma espiritual e que os pobres e aflitos sejam auxiliados e consolados na medida que necessitem.

Desta forma todas as coisas na Igreja serão feitas com ordem ao se escolherem pessoas fiéis, conforme a regra dada por Paulo na epístola a Timóteo (1 Tm 3).

Artigo 31 – Os oficiais da Igreja

Cremos que os ministros da Palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser indicados para os seus ofícios por meio da eleição legal pela Igreja, sob a invocação do nome de Deus e com ordem, conforme a Palavra de Deus ensina. Por esta razão cada um deve se guardar de insinuar-se por meios ilícitos, mas está obrigado a aguardar o tempo em que Deus o chamar, para assim ter a prova convincente que a sua vocação é do Senhor.

No que diz respeito aos ministros da Palavra, eles têm o mesmo poder e autoridade, independentemente do local onde estão, pois todos são servos de Jesus Cristo, o único Bispo universal e o único Cabeça da Igreja.

Além disso, para que a santa ordem de Deus não seja violada ou se torne desprezada, afirmamos que cada um deve ter especial consideração pelos ministros da Palavra e pelos presbíteros da Igreja, por causa do trabalho que realizam, e que deve viver em paz com eles, sem murmurações, contendas ou discórdias, tanto quanto for possível.

Artigo 32 – A ordem e a disciplina da Igreja

Cremos que, embora seja útil e bom que os governantes da Igreja entre si estabeleçam e conservem determinada ordem para manter o corpo da Igreja, no entanto devem se guardar de desviar-se daquilo que o nosso único Mestre, Cristo, nos ordenou. Por isto, rejeitamos todas as invenções humanas e todas as leis que se queiram introduzir para servir a Deus e assim tolher e constranger as consciências, de que maneira for. Aceitamos, portanto, apenas o que for útil para promover e guardar a concórdia e a unidade, mantendo tudo na obediência a Deus; para tanto exige-se a excomunhão, que se realiza conforme a Palavra de Deus, com o que dela resulta.

Artigo 33 – Os sacramentos

Cremos que o nosso bondoso Deus, levando em conta nossa pouca compreensão e nossa fraqueza, instituiu para nós os sacramentos, para nos selar as suas promessas e para serem penhores da sua benevolência e graça para conosco e ainda para alimentar e manter a nossa fé. Ele os ajuntou à Palavra do Evangelho para melhor apresentar aos nossos sentidos tanto o que nos fala por sua Palavra como também o que Ele faz internamente em nossos corações, consolidando em nós a salvação da qual nos faz participar. Pois os sacramentos são sinais e selos visíveis de uma coisa interior e invisível e através deles Deus opera em nós pelo poder do Espírito Santo. Por esta razão, os sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, pois Jesus Cristo é a sua verdade e sem Ele, nada seriam.

Ademais, o número de sacramentos prescritos por Cristo, nosso Mestre, nos basta, não sendo mais de dois, a saber, o sacramento do Santo Batismo e o sacramento da Santa Ceia de Jesus Cristo.

Artigo 34 – O Santo Batismo

Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Rm 10.4), ao derramar seu sangue, pôs fim a todos os outros derramamentos de sangue que se pudesse ou quisesse fazer para a propiciação ou satisfação dos pecados. Ele aboliu a circuncisão, que se realizava com sangue, e em seu lugar instituiu o sacramento do Batismo, pelo qual somos recebidos na Igreja de Deus e separados de todos os outros povos e religiões estranhas para pertencermos completamente a Ele, cujo selo e estandarte carregamos. Isto nos serve de testemunho de que Ele será eternamente nosso Deus e nosso misericordioso Pai.

Assim Ele ordenou batizar todos os seus em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19), apenas com água. Com isto nos faz entender que, assim como a água que é vista quando derramada em nós e aspergida no corpo do batizado, lava as impurezas do corpo, também o sangue de Cristo opera a mesma coisa dentro da alma através do Espírito Santo, aspergindo e purificando-a do pecado e regenerando-nos de filhos da ira para filhos de Deus.

Não que isto aconteça pela água externa, mas sim pela aspersão do precioso sangue do Filho de Deus, que é o nosso Mar Vermelho, que precisamos atravessar para escapar à tirania de Faraó, isto é, do diabo, e adentrar no Canaã espiritual. Assim os ministros nos dão do seu lado o sacramento e o sinal visível, mas o nosso Senhor dá o que o sacramento significa, a saber, os dons invisíveis da graça: Ele lava, purifica e limpa as nossa almas de todas as impurezas e iniqüidades; Ele renova os nossos corações e os enche de toda a consolação, dando-nos uma segurança verdadeira da sua bondade paternal; Ele nos reveste do novo homem e nos despe do velho com todas as suas obras.

Por isto, cremos que aquele que quer receber a vida eterna, deve ser batizado apenas uma vez com o único Batismo, sem jamais repeti-lo, pois nós também não podemos nascer duas vezes. Este Batismo não apenas é útil enquanto a água estiver em nós e nós o recebemos, mas durante toda a nossa vida. Por isso rejeitamos o erro dos anabatistas, que não se satisfazem com um único Batismo que uma vez receberam e que, além disso, condenam o batismo dos filhos pequenos dos que crêem. Cremos que se deve batizá-los, selando-os com o sinal da aliança, da mesma forma que as crianças pequenas em Israel eram circuncidadas baseado nas mesmas promessas feitas aos nossos filhos. E Cristo verdadeiramente derramou o seu sangue tanto para lavar os filhos pequenos dos que crêem como para os adultos. Por isto, eles recebem o sinal e o sacramento daquilo que Cristo fez por eles, como o Senhor ordenava na lei que se lhes conferisse, poucos dias depois de seu nascimento, o sacramento do sofrimento e morte de Cristo, oferecendo como sacrifício por eles um cordeiro, que era um sacramento de Jesus Cristo. Além disto, o Batismo faz aos nossos filhos o mesmo que a circuncisão fazia ao povo judeu, e esta é a razão por que Paulo chama o batismo de circuncisão de Cristo (Cl 2.11).

Artigo 35 – A Santa Ceia

Cremos e confessamos que o nosso Salvador Jesus Cristo ordenou e instituiu o sacramento da Santa Ceia para alimentar e sustentar aqueles que Ele já fez renascer e incorporou à sua família, que é a sua Igreja. Aqueles que renasceram possuem duas formas de vida. Uma delas é física e temporal: trouxeram-na do seu primeiro nascimento e é comum a todas as pessoas. A outra é espiritual e celestial: é lhes dada no segundo nascimento, que se realiza pela Palavra do Evangelho na comunhão com o corpo de Cristo; essa vida não é comum a todos, mas apenas os eleitos de Deus a possuem.

Assim Deus ordenou para a manutenção da vida física e terrena, pão comum e terrestre, que existe para isso e é comum a todos, assim como é a própria vida. Mas para manter a vida espiritual e celestial, que possuem os que crêem, Ele lhes enviou pão vivo, que desceu do céu, a saber, Jesus Cristo, que alimenta e sustenta a vida espiritual dos que crêem quando é comido, isto é, espiritualmente apropriado e aceito pela fé.

Para nos figurar este pão espiritual e celestial, Cristo ordenou pão terrestre e visível como sacramento do seu corpo e o vinho como sacra-mento do seu sangue. Com isto, Ele nos afirma que, tão certo como recebemos o sacramento e o temos em nossas mãos e o comemos e bebemos com a nossa boca, com a qual a nossa vida é sustentada, tão certo nós recebemos pela fé, que é a mão e a boca da nossa alma, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, o nosso único Salvador, em nossas almas, para a nossa vida espiritual. É certo e indubitável que Jesus Cristo não nos ordenou seus sacramentos à toa. Assim, Ele opera em nós tudo quanto Ele põe diante dos nossos olhos através destes sinais sagrados, embora a maneira pela qual isto acontece ultrapasse o nosso entendimento e seja insondável para nós, bem como a ação do Espírito Santo é oculta e insondável. Mesmo assim, não nos enganamos quando dizemos que o que comemos e bebemos é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo, mas a forma pela qual os tomamos não é pela boca, mas espiritualmente, pela fé. Assim Jesus Cristo permanece sempre sentado à destra de Deus, seu Pai, nos céus, e contudo nos faz participar de Si pela fé. Esta ceia é uma mesa espiritual, à qual Cristo nos faz participar de Si mesmo, com todos os seus tesouros e dons, e nos deixa usufruir tanto de Si mesmo como também dos méritos do seu sofrimento e morte. Ele ali-menta, fortalece e consola nossas pobres almas desoladas por meio do comer de sua carne, e refrigera-as por meio do beber de seu sangue.

Ademais, embora os sacramentos estejam ligados às coisas por eles representadas, nem por isto são ambos recebidos por todos. O ímpio recebe sim o sacramento para sua condenação, mas não recebe a verdade do sacra-mento, da mesma forma que Judas e Simão, o mágico, receberam ambos o sacramento, mas não receberam a Cristo, por este representado, pois Ele é a parte apenas dos que crêem.

Finalmente, recebemos o sagrado sacramento na congregação do povo de Deus com humildade e reverência, enquanto celebramos com ações de graça a memória sagrada da morte de Cristo, nosso Salvador, e confessamos a nossa fé e a religião cristã. Por isto, ninguém deve se aproximar sem antes ter-se examinado a si mesmo de forma correta, para que, ao comer deste pão e beber deste cálice, não coma e beba juízo para si (1 Co 11.28,29). Resumindo, através do uso deste sagrado sacramento somos movidos a um ardente amor por Deus e nosso próximo. Por isto, rejeitamos todos os acréscimos e invenções condenáveis que os homens introduziram e misturaram aos sacramentos, profanando-os, e declaramos que deve-se contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos nos ensinaram e que se deve falar sobre isto como eles falaram.

Artigo 36 – As autoridades civis

Cremos que o nosso bondoso Deus, devido à corrupção da raça humana, instituiu reis, príncipes e autoridades, porque Ele quer que o mundo seja governado por leis e regulamentações, para que a indisciplina dos homens seja contida e tudo transcorra com ordem entre eles. Para tanto, Ele deu nas mãos das autoridades a espada, para castigar os maus (Rm 13.4) e proteger os bons. E sua tarefa não é apenas olhar pela ordem pública e velar por ela, mas também manter o santo ministério da Igreja, combater e extirpar toda idolatria e falso culto a Deus, destruir o reino do anticristo, promover o Reino de Jesus Cristo e fazer pregar a Palavra do Evangelho por toda a parte, para que Deus seja honrado e servido por todos, conforme Ele ordena em sua Palavra.

Ademais, cada um, independente da sua qualidade, condição ou classe, é obrigado a sujeitar-se às autoridades, pagar impostos, prestar-lhes honra e respeito e obedecer-lhes em todas as coisas que não contrariem a Palavra de Deus, orando por elas, para que o Senhor queira guiá-las em todos os seus caminhos e para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito (1 Tm 2.2). Por isto, reprovamos os anabatistas e outros revolucionários e, em geral, todos aqueles que rejeitam as autoridades e magistrados e que querem derrubar a ordem jurídica e introduzir a comunhão de bens e que perturbam os bons costumes que Deus estabeleceu entre os homens.

Artigo 37 – O juízo final

Finalmente, cremos, de acordo com a Palavra de Deus, que, ao chegar o tempo determinado pelo Senhor, o qual é desconhecido a todas as criaturas, e ao se completar o número dos eleitos, o nosso Senhor Jesus Cristo virá dos céus, física e visivelmente, do mesmo modo como Ele subiu ao céu (At 1.11), com grande glória e majestade, para se revelar Juiz sobre vivos e mortos, pondo este velho mundo em fogo e em chamas para purificá-lo. Então aparecerão diante deste grande Juiz todos os seres humanos pessoalmente, tanto homens como mulheres e crianças, que viveram desde o início até o fim do mundo, intimados pela voz do arcanjo e pelo som da trombeta de Deus (1 Ts 4.16). Pois todos os mortos ressuscitarão da terra e as almas serão ajuntadas e unidas aos seus próprios corpos nos quais viveram. Aqueles que estiverem ainda vivos não morrerão como os outros, mas serão transformados num momento e de corruptíveis se tornarão incorruptíveis. Então se abrirão os livros, que são as consciências, e os mortos serão julgados (Ap 20.12) segundo o bem ou o mal que tiverem feito nesse mundo (2 Co 5.10). Sim, os homens darão conta de toda palavra frívola que proferiram (Mt 12.36), embora o mundo a considere apenas brincadeira e passatempo, e então as coisas ocultas e a hipocrisia dos homens serão trazidas publicamente à luz perante todos.

Por isso, o pensamento deste juízo é com razão terrível e amedrontador para os maus e ímpios e sobremodo desejável e repleto de consolo para os piedosos e eleitos, pois então a sua redenção será completada e receberão ali os frutos do penoso labor e sofrimento que suportaram; a sua inocência será reconhecida por todos, e verão a terrível vingança que Deus exercerá sobre os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e afligiram neste mundo. Estes serão convencidos de sua culpa pelo testemunho das suas próprias consciências e se tornarão imortais, mas apenas para serem atormentados no fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.41).

Os crentes e eleitos, no entanto, serão coroados de honra e glória. O Filho de Deus confessará seus nomes diante de Deus, seu Pai (Mt 10.32) e dos seus anjos eleitos, e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 21.4). E reconhecer-se-á que a sua causa, hoje condenada por muitos juízos e autoridades como herética e ímpia, é a causa do Filho de Deus. E como galardão pela graça o Senhor os fará possuir tamanha glória que o coração humano jamais poderia imaginar. Por isto esperamos por aquele grande dia com forte anseio para gozar plenamente das promessas de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.

 

 

CATECISMO DE HEIDELBERG

Domingo 1

P. 1. Qual a sua única consolação, tanto na vida como na hora da morte?

R. Que de corpo e alma, tanto em vida como na hora da morte, não pertenço a mim mesmo, mas a meu fiel Salvador Jesus Cristo. Com o seu precioso sangue Ele pagou completamente por todos os meus pecados e me livrou de todo o domínio do diabo. Ele vela por mim com tal cuidado, que sem a vontade de meu Pai celeste não cairá sequer um fio de cabelo da minha cabeça, sim, que além disso todas as coisas deverão servir para a minha salvação. Por isto, Ele me certifica, através do seu Espírito Santo, da vida eterna e me torna disposto, de todo o coração, a viver para Ele de hoje em diante.

P. 2. O que você deve saber para viver e morrer piedosamente nesta consolação?

R. Três coisas. Primeiramente, qual o tamanho do meu pecado e da minha desgraça. Em segundo lugar, como sou salvo de todos os meus pecados e da minha desgraça. E por último, como devo agradecer a Deus por esta salvação.

PRIMEIRA PARTE

A DESGRAÇA DO HOMEM

Domingo 2

P. 3. Como você conhece a sua desgraça?

R. Pela lei de Deus.

P. 4. O que a lei de Deus exige de nós?

R. Isto Cristo nos ensina resumidamente em Mateus 22:37-40 “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”.

P. 5. Você pode cumprir tudo isto?

R. Não, pois por natureza sou inclinado a odiar a Deus e ao meu próximo.

Domingo 3

P. 6. Então Deus criou o homem mau e perverso?

R. Não, Deus criou o homem bom e conforme a sua imagem, isto é, verdadeiramente justo e santo, para que conhecesse a Deus seu Criador de forma correta, a fim de amá-lo de coração e viver com Ele em eterna bem-aventurança para louvá

-lo e glorificá-lo.

P. 7. De onde vem então esta natureza corrupta do homem?

R. Da queda e da desobediência dos nossos primeiros pais, Adão e Eva, no paraíso, onde a nossa natureza se corrompeu de tal maneira que nós todos somos concebidos e nascidos em pecado.

P. 8. Somos então tão corruptos ao ponto de sermos totalmente incapazes de fazer o bem e inclinados a todo o mal?

R. Somos sim, a não ser que renasçamos pelo Espírito de Deus.

Domingo 4

P. 9. Deus não é injusto com o homem ao exigir na lei algo que ele não pode cumprir?

R. Não, pois Deus criou o homem de tal forma que pudesse cumpri-la, porém o homem roubou estes dons de si mesmo e de todos os seus descendentes, dando ouvidos ao diabo e por desobediência propositada.

P. 10. Deus quer deixar impune esta desobediência e apostasia?

R. De forma alguma. Ele se torna extremamente irado tanto pelos pecados nos quais nascemos como pelos que nós mesmos cometemos, e castiga-os com justo julgamento agora e na eternidade, conforme suas palavras: “Maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da lei, para praticá-las “. (Gl 3:10)

P. 11. Então Deus não é misericordioso?

R. Deus é misericordioso mas também é justo. A sua justiça exige, que o pecado que foi cometido contra a suprema majestade de Deus também seja punido com a pena máxima, ou seja, o castigo eterno ao corpo e à alma.

SEGUNDA PARTE

A SALVAÇÃO DO HOMEM

Domingo 5

P. 12. Então, merecendo castigo conforme o justo julgamento de Deus, agora e na eternidade, existe pois um meio para evitar este castigo e assim sermos acolhidos novamente por graça?

R. Deus quer que a sua justiça seja satisfeita e portanto, devemos dar completa satisfação, seja por nós mesmos, seja por intermédio de alguém outro.

P. 13. Nós mesmos podemos satisfazer a sua justiça?

R. De forma alguma. Ao contrário, cada dia nós aumentamos a nossa culpa.

P. 14. Alguém, sendo apenas criatura, pode satisfazer por nós a justiça de Deus?

R. Não. Pois primeiramente Deus não quer culpar outra criatura pelos pecados cometidos pelo homem e, em segundo lugar, ninguém outro que seja apenas criatura será capaz de carregar o peso da eterna ira de Deus contra o pecado e livrar outros dela.

P. 15. Que Mediador e Salvador devemos então buscar?

R. Um Mediador, homem justo e verdadeiro, porém mais poderoso que todas as criaturas, isto é, que seja ao mesmo tempo verdadeiro Deus.

Domingo 6

P. 16. Por que o Mediador deve ser homem justo e verdadeiro?

R. Porque a justiça de Deus exige que a natureza humana, a qual pecou, pague pelo pecado e porque um homem pecador não pode pagar por outros.

P. 17. E por que este Mediador deve ser, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus?

R. Pois pela sua natureza divina será capaz de carregar o peso da ira de Deus em sua natureza humana, conquistando e restituindo-nos a justiça e a vida.

P. 18. Quem é então este Mediador que, ao mesmo tempo, é verdadeiro Deus e verdadeiro e justo homem?

R. Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos foi dado por Deus para ser nossa sabedoria, justiça, santificação e completa redenção.

P. 19. Como você sabe isto?

R. Pelo Santo Evangelho, o qual o próprio Deus revelou primeiramente no paraíso, e posteriormente o proclamou através dos santos patriarcas e profetas e o representou através dos sacrifícios e outras cerimônias da lei, e finalmente o cumpriu através do seu unigênito Filho.

Domingo 7

P. 20. Então todos os homens são salvos por Cristo da mesma forma que se perderam em Adão?

R. Não. Apenas aqueles que são nele incorporados pela verdadeira fé e que aceitam todos os seus benefícios.

P. 21. O que é uma verdadeira fé?

R. Uma verdadeira fé não é apenas o conhecimento e a certeza pelos quais eu tenho como verdadeiro tudo aquilo que Deus nos tem revelado em sua Palavra, mas também plena confiança que o Espírito Santo opera em meu coração através do Evangelho, de que Deus perdoou os pecados, e deu eterna justiça e salvação, não somente aos outros mas também a mim, somente pela graça e por causa dos méritos de Cristo.

P. 22. Em que então um cristão deve crer?

R. Tudo o que nos é prometido no Evangelho, o que o Credo Apostólico ou os artigos da nossa fé cristã universal e indubitável nos ensinam resumidamente.

P. 23. O que dizem os artigos deste Credo?

R. Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu unigênito Filho, nosso Senhor; o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno; ao terceiro dia ressurgiu dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso; donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na santa Igreja universal de Cristo, a comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna.

Domingo 8

P. 24. Como são divididos estes artigos?

R. Em três partes. A primeira trata de Deus, o Pai, e a nossa criação; a segunda de Deus, o Filho, e a nossa salvação; a terceira de Deus, o Espírito Santo, e a nossa santificação.

P. 25. Mas, se existe apenas um único Ser divino, por que você fala então de Pai, Filho e Espírito Santo?

R. Porque Deus se revelou desta forma em sua Palavra, de modo que estas três Pessoas distintas são o único verdadeiro e eterno Deus.

DEUS PAI E A NOSSA CRIAÇÃO

Domingo 9

P. 26. O que você crê, ao dizer: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra”?

R. Que o eterno Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, que criou do nada o céu e a terra e tudo o que neles há, e também os sustenta e governa pelo seu eterno conselho e providência, é o meu Deus e o meu Pai, por causa do seu Filho, o Cristo. Por isso confio nele de tal forma que não duvido que Ele proverá de tudo quanto necessito para o meu corpo e a minha alma, e que Ele transformará em bem para mim todo o mal que me dá como porção nesta vida penosa, pois Ele pode fazer isso por ser Deus todo-poderoso e também quer fazê-lo por ser Pai fiel.

Domingo 10

P. 27. O que você entende por providência divina?

R. É o poder onipotente e onipresente de Deus, pelo qual Ele sustenta continuamente, com a sua mão, o céu e a terra com todas as criaturas, e os governa de tal forma que folhas e relva, chuva e seca, anos frutíferos e infrutíferos, alimento e bebida, saúde e enfermidade, riqueza e pobreza, sim, todas as coisas não nos sobrevêm por acaso mas da sua mão paternal.

P. 28. Por que é importante para nós saber que Deus criou todas as coisas a as sustenta por sua providência?

R. Para sermos pacientes na adversidade e gratos na prosperidade, e para no futuro termos boa confiança em nosso fiel Deus e Pai, na certeza que criatura nenhuma nos separará do seu amor, pois todas as criaturas estão de tal maneira na sua mão que sem a sua vontade não podem sequer se mover.

DEUS FILHO E A NOSSA SALVAÇÃO

Domingo 11

P. 29. Por que o Filho de Deus é chamado de Jesus, ou seja, Salvador?

R. Porque Ele nos salva e nos livra de todos os pecados e não se pode buscar ou encontrar salvação alguma junto a outrem.

P. 30. Aqueles que buscam o bem e a salvação junto aos santos, junto a si mesmos ou em outra parte qualquer, crêem realmente no único Salvador Jesus?

R. Não. Com estas ações eles negam o único Salvador Jesus, embora com a boca se gloriem nele. Pois, ou Jesus não é Salvador perfeito, ou então aqueles que aceitam esse Salvador com verdadeira fé, devem encontrar nele tudo o que for necessário para a sua salvação.

Domingo 12

P. 31. Por que Ele é chamado de Cristo, ou seja, Ungido?

R. Porque Ele foi ordenado por Deus Pai, e ungido com o Espírito Santo para ser o nosso supremo Profeta e Mestre, o qual nos revelou plenamente o propósito secreto e a vontade de Deus quanto à nossa salvação; para ser o nosso único Sumo Sacerdote que nos livrou com o sacrifício único do seu corpo e que sempre intercede por nós junto ao Pai; e para ser o nosso eterno Rei, que nos governa pela sua Palavra e Espírito e que nos protege e guarda na salvação que conquistou por nós.

P. 32. Por que você é chamado de cristão?

R. Porque pela fé sou membro de Cristo e portanto tenho parte na sua unção; para que confesse seu Nome, ofereça-me a Ele como sacrifício vivo de ação de graças, e lute contra o pecado e o diabo com uma consciência boa e livre durante esta vida, e para que depois, na eternidade, possa reinar com Ele sobre todas as criaturas.

Domingo 13

P. 33. Por que Ele é chamado Filho unigênito de Deus, se nós também somos filhos de Deus?

R. Porque somente Cristo, por natureza, é o Filho eterno de Deus. Mas nós, por sua causa e pela graça, fomos adotados como filhos de Deus.

P. 34. Por que você O chama de nosso Senhor?

R. Porque Ele nos resgatou de corpo e alma de todos os nossos pecados e nos livrou de todo o domínio do diabo, não com ouro ou prata, mas com seu precioso sangue, fazendo-nos assim a sua propriedade.

Domingo 14

P. 35. O que quer dizer: “o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”?

R. Que o eterno Filho de Deus, que é e permanece eterno e verdadeiro Deus, pela ação do Espírito Santo, assumiu a verdadeira natureza humana, da carne e sangue da virgem Maria, para ser de fato descendente de Davi. Assim Ele é

semelhante aos irmãos em tudo, mas sem pecado.

P. 36. Que importância tem para você a santa concepção e nascimento de Cristo?

R. Que Ele é nosso Mediador, e com sua inocência e completa santidade cobre o meu pecado, no qual eu fui concebido e nascido, perante a face de Deus.

Domingo 15

P. 37. O que você entende pela palavra “padeceu”?

R. Que Ele carregou em seu corpo e alma a ira de Deus pelo pecado de toda a raça humana, durante toda a sua vida na terra, mas especialmente no final desta, para que por seu sofrimento, como o único sacrifício propiciatório, livrasse o nosso corpo e alma da condenação eterna, e para nos conquistar a graça de Deus, a justiça e a vida eterna.

P. 38. Por que Ele padeceu sob o juiz Pôncio Pilatos?

R. Porque sendo Ele condenado inocentemente pelo juiz secular, livrou-nos da severa condenação de Deus que nos esperava.

P. 39. A crucificação constitui algo superior a outra forma de morte?

R. Sim, pois assim estou certo que Ele tomou sobre si a maldição que pesava sobre mim, pois a morte de cruz era maldita por Deus.

Domingo 16

P. 40. Por que era preciso que Cristo se humilhasse até à morte?

R. Pois devido à justiça e à verdade de Deus não havia outra forma de se pagar pelos nossos pecados senão pela morte do Filho de Deus.

P. 41. Por que Cristo foi sepultado?

R. Para confirmar assim que realmente morrera.

P. 42. Mas se Cristo já morreu por nós, por que ainda temos que morrer?

R. Nossa morte não é um pagamento pelos nossos pecados, mas somente um morrer para os pecados e uma passagem para a vida eterna.

P. 43. O que mais recebemos pelo sacrifício e a morte de Cristo na cruz?

R. Que pelo seu poder, o nosso velho homem é com Ele crucificado, morto e sepultado, para que as más paixões da carne não mais governem em nós, mas para que nós nos ofereçamos a Ele em sacrifício de ação de graças.

P. 44. Por que se acrescenta: “desceu ao inferno”?

R. Para que eu possa estar certo e plenamente consolado nas minhas mais duras tentações de que o meu Senhor Jesus Cristo me livrou da angústia e dor infernais, ao sofrer indizíveis angústias, dores, terrores e infernais tormentos, também em sua alma, tanto na sua vida como na cruz.

Domingo 17

P. 45. O que significa a ressurreição de Cristo para nós?

R. Primeiramente, que Ele venceu a morte pela sua ressurreição para tornar-nos participantes da justiça, que Ele conquistou para nós através da sua morte. Em segundo lugar, que nós somos ressuscitados também pelo seu poder, para uma nova vida. E, em terceiro lugar, que a ressurreição de Cristo é para nós um penhor seguro da nossa própria ressurreição em glória.

Domingo 18

P. 46. O que você entende por: “subiu ao céu”?

R. Que Cristo ascendeu da terra para o céu, diante dos olhos dos seus discípulos, onde permanece para o nosso bem, até que volte para julgar os vivos e os mortos.

P. 47. Então Cristo não está conosco até o fim do mundo, conforme Ele nos prometeu?

R. Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Quanto à sua natureza humana, Ele não se encontra mais na terra, mas quanto à sua divindade, majestade, graça e Espírito, Ele jamais se afasta de nós.

P. 48. Neste caso, as duas naturezas de Cristo não estão separadas, já que a sua natureza humana não está em toda parte onde está a sua natureza divina?

R. De forma alguma. A sua natureza divina não pode ser limitada e é onipresente; segue portanto, que ela está fora da natureza humana que Ele assumiu, mas também está dentro dela e se mantém pessoalmente unida a ela.

P. 49. O que significa a ascensão de Cristo para nós?

R. Primeiramente, que Ele é o nosso Advogado diante do seu Pai no céu. Segundo, que temos lá no céu, nele, a nossa carne como penhor. Por isso estamos certos que como Cabeça, Ele tomará também para si a nós, seus membros. E, por último, que da sua parte nos envia o seu Espírito como penhor, por cujo poder buscamos as coisas lá do alto, onde está Cristo à direita de Deus, e não as que são aqui da terra.

Domingo 19

P 50. Por que se acrescenta: “e está sentado à direita de Deus”?

R. Cristo subiu ao céu para ali se manifestar Cabeça da sua igreja, por intermédio de quem o Pai governa todas as coisas.

P. 51. Que importância tem para nós esta glória de Cristo, nosso Cabeça?

R. Primeiramente, que Ele derrama em nós, seus membros, os dons celestiais através do seu Espírito Santo. E ainda que, através do seu poder, nos protege e guarda de todos os inimigos.

P. 52. Que consolação traz a você a volta de Cristo “para julgar os vivos e os mortos “?

R. Que em toda a aflição e perseguição espero, de cabeça erguida, por Ele, o Juiz que vem do céu, que anteriormente já se apresentou ao tribunal de Deus por minha causa e tirou a maldição que pesava sobre mim, e que lançará todos os seus e meus inimigos na condenação eterna, mas a mim e a todos os eleitos tomará a si na alegria e glória celestiais.

DEUS ESPÍRITO SANTO E A NOSSA SANTIFICAÇÃO

Domingo 20

P. 53. O que você crê a respeito do Espírito Santo?

R. Primeiramente que, juntamente com o Pai e o Filho, Ele é verdadeiro e eterno Deus. E segundo, que Ele foi dado também a mim, para que, através de uma verdadeira fé, me torne participante de Cristo e de todos os seus benefícios, e para me socorrer e permanecer comigo para sempre.

Domingo 21

P. 54. O que você crê a respeito da santa Igreja universal de Cristo?

R. Que o Filho de Deus, desde o princípio do mundo até o fim, através do seu Espírito e de sua Palavra reúne, protege e sustenta para si uma igreja na unidade da verdadeira fé. Esta igreja foi escolhida de entre toda a raça humana para a vida eterna. Creio também que dela sou um membro vivo e o serei eternamente.

P 55. O que você entende pela comunhão dos santos?

R. Em primeiro lugar que os que crêem, todos juntos e cada um em particular, como membros participam do Senhor Jesus Cristo e de todos os seus tesouros e dons. Em segundo lugar, que cada um deve sentir-se chamado a usar seus dons com boa vontade e alegremente para o bem e a salvação dos outros membros.

P. 56. O que você crê a respeito da remissão dos pecados?

R. Que Deus, por causa da satisfação que Cristo realizou, já não quer atribuir a mim todos os meus pecados, nem a minha natureza pecaminosa contra a qual tenho que lutar durante toda a minha vida, mas me dá, pela graça, a justiça de Cristo, para que eu jamais seja condenado por Deus.

Domingo 22

P. 57. Que consolação lhe traz a ressurreição da carne?

R. Que não apenas a minha alma será imediatamente elevada a Cristo, seu Cabeça, após esta vida, mas também o meu corpo, ressuscitado pelo poder de Cristo, será reunido novamente a minha alma e se tornará semelhante ao corpo glorioso de Cristo.

P. 58. Que consolação lhe traz o artigo sobre a vida eterna?

R. Que, enquanto já agora em meu coração sinta o princípio da alegria eterna, após esta vida terei a perfeita bem-aventurança, que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano, para nela louvar a Deus eternamente.

A JUSTIFICAÇÃO

Domingo 23

P. 59. De que lhe aproveita crer tudo isto?

R. Que em Cristo sou justo perante Deus, e que sou herdeiro da vida eterna.

P. 60. Como você é justo perante Deus?

R. Apenas por uma verdadeira fé em Jesus Cristo. Embora a minha consciência me acuse que pequei gravemente contra todos os mandamentos de Deus e não guardei nenhum deles e ainda sou inclinado a todo o mal, mesmo assim Deus me concede, sem qualquer mérito meu, apenas pela graça, a plena satisfação, justiça e santidade de Cristo e as atribui a mim como se eu jamais tivesse tido ou cometido pecado, sim, como se eu tivesse cumprido toda a obediência que Cristo cumpriu por mim. Apenas aceitando este benefício com coração confiante, eu sou justo perante Deus.

P. 61. Por que você diz que é justo apenas pela fé?

R. Não porque agrade a Deus pelo valor da minha fé, mas que apenas a satisfação, justiça e santidade de Cristo são a minha justiça perante Deus, e que posso aceitá-las e delas me apropriar apenas pela fé.

Domingo 24

P. 62. Por que as nossas boas obras não podem ser a nossa justiça perante Deus, ou parte dela?

R. Porque a justiça que pode subsistir perante o juízo de Deus deve ser plenamente perfeita e em tudo de acordo com a lei de Deus, enquanto que até as melhores das nossas boas obras nesta vida são todas imperfeitas e maculadas pelo pecado.

P. 63. Se as nossas boas obras não possuem qualquer mérito, por que Deus quer recompensá-las nesta vida e na futura?

R. Esta recompensa não é dada por mérito mas pela graça.

P. 64. Esta doutrina não torna as pessoas descuidadas e ímpias?

R. De forma alguma, pois é impossível que alguém que está enxertado em Cristo por uma verdadeira fé, não produza frutos de gratidão.

OS SACRAMENTOS

Domingo 25

P. 65. Visto que apenas a fé nos faz participar de Cristo e de todos os seus benefícios, de onde vem então esta fé?

R. Do Espírito Santo, que opera a fé em nossos corações pela pregação do santo Evangelho e a fortalece pelo uso dos Sacramentos.

P. 66. O que são Sacramentos?

R. Sacramentos são sinais e selos santos e visíveis, instituídos por Deus, para que, pelo seu uso nos façam entender melhor a promessa do Evangelho, selando-a para nós, a saber, que baseado no único sacrifício consumado na cruz por Cristo, Ele nos concede perdão dos pecados e a vida eterna, pela graça.

P. 67. Então ambos, a Palavra e os Sacramentos, estão destinados a orientar nossa fé para o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, como base exclusiva da nossa salvação?

R. De fato, pois o Espírito Santo nos ensina no Evangelho e nos certifica pelos Sacramentos que toda a nossa salvação está firmada no único sacrifício que Jesus Cristo realizou por nós na cruz.

P. 68. Quantos Sacramentos instituiu Cristo na Nova Aliança?

R. Dois: o Santo Batismo e a Santa Ceia.

O SANTO BATISMO

Domingo 26

P. 69. Como o Santo Batismo afirma e assegura a você que o único sacrifício de Cristo na cruz é para o seu bem?

R. Cristo instituiu esta lavagem externa e prometeu que certamente estou lavado com seu sangue e Espírito das impurezas da minha alma, ou seja de todos os meus pecados, da mesma forma que estou lavado externamente com a água, que tira as impurezas do corpo.

P. 70. O que quer dizer isto: lavado com o sangue e o Espírito de Cristo?

R. Quer dizer, ter recebido de Deus perdão dos pecados, pela graça, por causa do sangue de Cristo, o qual Ele derramou por nós no seu sacrifício na cruz. E ainda, ter sido renovado pelo Espírito Santo e santificado para sermos membros de Cristo, a fim de que morramos cada vez mais para os pecados e levemos uma vida consagrada e irrepreensível.

P. 71. Onde Cristo nos prometeu que Ele certamente nos quer lavar com seu sangue e Espírito assim como somos lavados pela água do Batismo?

R. Na instituição do Batismo, onde Ele disse: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”(Mt. 28:19). E ainda “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16:16). Esta promessa é repetida onde as Escrituras chamam o Batismo de “lavar regenerador” e “lavar dos pecados” (Tt. 3:5, At. 22:16).

Domingo 27

P. 72. Então esta lavagem externa é a purificação dos pecados propriamente dita?

R. Não, apenas pelo sangue de Jesus Cristo e pelo Espírito Santo somos purificados de todos os pecados.

P. 73. Por que então o Espírito Santo chama o Batismo de “lavar regenerador ” e “lavar dos pecados”?

R. Deus diz isto por motivos bem fundamentados, a saber, não só para nos ensinar que, da mesma forma que as impurezas são lavadas do corpo pela água, também os nossos pecados são retirados pelo sangue e pelo Espírito de Jesus Cristo; mas principalmente para nos certificar, por intermédio deste penhor e sinal divinos, que estamos tão certamente lavados espiritualmente dos nossos pecados como somos lavados externamente pela água.

P. 74. Devem-se batizar também as crianças?

R. Sim. Estas pertencem igualmente, tais como os adultos, à Aliança de Deus e à sua igreja e também promete-se a elas, não menos que aos adultos, a redenção dos pecados pelo sangue de Cristo e o Espírito Santo, que opera a fé. Por esta razão também as crianças devem ser incorporadas à igreja cristã e distinguidas dos filhos dos incrédulos através do Batismo, como sinal da Aliança, da mesma forma que isto acontecia sob a Antiga Aliança pela circuncisão, que foi substituída pelo Batismo sob a Nova Aliança.

A SANTA CEIA

Domingo 28

P. 75. Como a Santa Ceia afirma e assegura-lhe que você participa do sacrifício único de Cristo, consumado na cruz, e dos seus benefícios?

R. Da seguinte forma: Cristo ordenou a mim e a todos os que crêem comer deste pão partido e beber deste cálice, em memória dele. Acrescentou a isto a seguinte promessa: em primeiro lugar, que seu corpo foi sacrificado e quebrantado por mim na cruz e seu sangue foi derramado por mim tão certo como vejo com meus próprios olhos que o pão do Senhor é partido para mim e é dado o cálice a mim; e em segundo lugar, que Ele próprio, com seu corpo crucificado e seu sangue derramado, alimenta e refrigera a minha alma para a vida eterna, tão certo como recebo o pão e o cálice do Senhor das mãos do ministro e os provo com a minha boca, como sinais fiéis do corpo e sangue de Cristo.

P. 76. O que quer dizer isto: comer o corpo crucificado de Cristo e beber seu sangue derramado?

R. Significa não apenas aceitar com coração confiante todo o sofrimento e morte de Cristo e assim receber o perdão dos pecados e a vida eterna, mas também que através do Espírito Santo, que vive tanto em Cristo como em nós, somos unidos cada vez mais com seu santo corpo, de forma que somos carne da sua carne e ossos dos seus ossos, mesmo estando Cristo no céu e nós na terra, e que vivemos e somos governados eternamente por esse Espírito, assim como os membros de um corpo vivem e são governados por uma só alma.

P. 77. Onde Cristo prometeu que Ele certamente quer alimentar e refrigerar os crentes com seu corpo e sangue, assim como comem deste pão partido e bebem deste cálice?

R. Na instituição da Santa Ceia, onde consta: “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha”( I Cor. 11: 23-26 ). Esta promessa é repetida pelo apóstolo Paulo, ao dizer: “Porventura o cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” ( I Cor. 10: 16,17 ).

Domingo 29

P. 78. Então o pão e o vinho se tornam o verdadeiro corpo e sangue de Cristo?

R. Não. Assim como a água no Batismo não se transforma no sangue de Cristo nem é a própria purificação dos pecados, mas apenas um sinal divino e garantia desta, tão pouco o pão da Santa Ceia se torna o próprio corpo de Cristo, embora conforme a natureza e uso dos Sacramentos seja chamado de corpo de Cristo.

P. 79. Por que então Cristo chama o pão de seu corpo e o cálice de seu sangue, ou a nova aliança no seu sangue, e Paulo fala da comunhão do corpo e sangue de Cristo?

R. Cristo não diz isto sem boa razão, a saber, não só para nos ensinar que, da mesma forma que o pão e o vinho mantém esta vida temporal, também o seu corpo crucificado e sangue derramado são o alimento e bebida verdadeiros pelos quais as nossas almas são alimentadas para a vida eterna; mas principalmente para nos certificar, por intermédio destes sinais e penhores visíveis, que participamos tão certamente do seu verdadeiro corpo e sangue pela ação do Espírito Santo como recebemos estes santos sinais com a nossa boca em sua memória; e que todo o seu sofrimento e obediência são certamente nossos, como se nós mesmos tivéssemos sofrido tudo e pago a Deus pelos nossos pecados.

Domingo 30

P. 80. Qual a diferença entre a Santa Ceia do Senhor e a missa papal?

R. A Santa Ceia do Senhor nos certifica que temos perdão completo de todos os nossos pecados pelo sacrifício único de Jesus Cristo, que Ele mesmo realizou uma única vez na cruz, e que pelo Espírito Santo somos incorporados em Cristo que, segundo a sua natureza humana, não está na terra mas no céu, à direita de Deus Pai, e ali quer ser adorado por nós. Mas a missa ensina que os vivos e os mortos tão somente têm perdão dos pecados pelo sofrimento de Cristo se Ele ainda diariamente é sacrificado em favor deles pelos sacerdotes, e que Cristo está fisicamente presente sob as formas do pão e do vinho e portanto deve ser adorado neles. Por isto, no fundo a missa não é outra coisa que não a negação do sacrifício único e do sofrimento de Jesus Cristo e uma maldita idolatria.

P. 81. Para quem foi instituída a Santa Ceia do Senhor?

R. Para aqueles que se aborrecem de si mesmos por causa dos seus pecados e mesmo assim confiam que estes lhes foram perdoados por causa de Cristo, e que também a sua fraqueza remanescente é coberta pelo seu sofrimento e morte, e que por isso desejam fortalecer cada vez mais a sua fé e corrigir a sua vida. Entretanto, os hipócritas e aqueles que não se convertem sinceramente a Deus comem e bebem juízo para si.

P. 82. Devem-se admitir à Santa Ceia também aqueles que se mostram pela sua confissão e vida como incrédulos e ímpios?

R. Não. Pois assim a Aliança de Deus é profanada e a sua ira provocada contra toda a congregação. Por isto a Igreja de Cristo, conforme a ordem de Cristo e dos seus apóstolos, é

obrigada a excluir tais pessoas com as chaves do Reino dos céus até que corrijam suas vidas.

Domingo 31

P. 83. Quais são as chaves do Reino dos céus?

R. São a pregação do santo Evangelho e a disciplina cristã, pelas quais o Reino dos céus se abre para os que crêem e se fecha para os incrédulos.

P. 84. Como se abre e se fecha o Reino dos céus através da pregação do santo Evangelho?

R. Conforme a ordem de Cristo prega-se e testifica-se publicamente aos que crêem, a todos juntos e a cada um em particular, que todos os seus pecados são realmente perdoados por Deus, por causa dos méritos de Cristo, e isto toda vez que aceitarem com verdadeira fé a promessa do Evangelho. No entanto, a todos os incrédulos e hipócritas proclama-se e testifica-se que a ira de Deus e o juízo eterno pesam sobre eles enquanto não se converterem. Segundo este testemunho do Evangelho Deus julgará nesta vida e na eterna.

P. 85. Como se abre e se fecha o Reino dos céus através da disciplina cristã?

R. Conforme a ordem de Cristo, os que levam o nome de cristão, mas vivem ou ensinam de forma não cristã, quando após repetidas admoestações fraternas não abandonarem seus erros ou comportamento vergonhoso, terão seus nomes comunicados à Igreja ou àqueles que por ela foram constituídos para tal. Caso não atendam à admoestação, serão por estes excluídos da igreja cristã pela não admissão aos Sacramentos, e pelo próprio Deus, excluídos do Reino de Cristo. Serão admitidos novamente como membros de Cristo e da sua igreja quando prometerem e demonstrarem verdadeira correção.

TERCEIRA PARTE

A GRATIDÃO A DEUS PELA SALVAÇÃO

Domingo 32

P. 86. Já que somos salvos da nossa desgraça por Cristo, sem qualquer mérito da nossa parte, apenas pela graça, por que então devemos praticar ainda boas obras?

R. Porque Cristo, que nos resgatou e libertou com o seu sangue, também nos renova segundo a sua imagem pelo seu Espírito Santo, para que com toda a nossa vida demonstremos gratidão a Deus pelos seus benefícios e para que Ele seja louvado por nós. Além disso, para que pelos frutos estejamos certos para nós mesmos da nossa fé e para que também nosso próximo seja ganho para Cristo através da nossa conduta piedosa.

P. 87. Então não podem ser salvos aqueles que permanecem em sua vida de impiedade e sem gratidão, não se convertendo a Deus?

R. De forma alguma. As Escrituras dizem que nenhum impuro, idólatra, adúltero, ladrão, avarento, bêbado, maldizente, roubador ou semelhante herdará o Reino de Deus.

Domingo 33

P. 88. Em quantas partes consiste a conversão?

R. Em duas: a morte do velho homem e a ressurreição do novo homem.

P. 89. O que é a morte do velho homem?

R. É um arrependimento sincero por termos provocado a ira de Deus pelos nossos pecados, e odiar e evitar mais e mais os pecados.

P. 90. O que é a ressurreição do novo homem?

R. É uma alegria profunda em Deus através de Cristo e paixão e amor para realizar todas as boas obras conforme a vontade de Deus.

P. 91. O que são boas obras?

R. Apenas aquelas que são feitas com verdadeira fé e conforme a lei de Deus, para a sua glória, e não aquelas baseadas em nosso gosto ou em prescrições humanas.

Domingo 34

P. 92. O que reza a lei do Senhor?

R. Deus falou todas estas palavras (Êxodo 20:1-17, Deuteronômio 5:6-21): Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.

Primeiro mandamento

Não terás outros deuses diante de mim.

Segundo mandamento

Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque Eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

Terceiro mandamento

Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.

Quarto mandamento

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado, e o santificou.

Quinto mandamento

Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.

Sexto mandamento

Não matarás.

Sétimo mandamento

Não adulterarás.

Oitavo mandamento

Não furtarás.

Nono mandamento

Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

Décimo mandamento

Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença a teu próximo.

P. 93. Como se dividem estes Dez Mandamentos?

R. Em duas tábuas. A primeira ensina-nos como devemos nos comportar em relação a Deus e a segunda, o que devemos ao nosso próximo.

P. 94. O que Deus ordena no primeiro mandamento?

R. Que, sob pena de perder a minha salvação, devo evitar e fugir de toda a idolatria, feitiçaria, adivinhação, superstição, invocação de santos ou de outras criaturas e que eu reconheça devidamente o único e verdadeiro Deus, confie somente nele, me sujeite apenas a Ele com toda a humildade e paciência, espere todo o bem apenas dele e O ame, tema e honre com todo o meu coração, de forma que prefiro renunciar a todas as criaturas a fazer qualquer coisa, por mínima que seja, contra a sua vontade.

P. 95. O que é idolatria?

R. Idolatria é conceber ou possuir algo em que se confie, em vez de ou além do único e verdadeiro Deus, que se revelou em sua Palavra.

Domingo 35

P. 96. O que Deus exige no segundo mandamento?

R. Que não representemos Deus sob qualquer forma e que não O adoremos de outra forma senão aquela que Ele ordenou em sua Palavra.

P. 97. Então não se podem fazer quaisquer imagens?

R. Não é possível nem é permitido fazer qualquer imagem de Deus. E mesmo que seja permitido fazer imagens de criaturas, Deus proíbe fazer e possuir imagens delas para adorá-las ou através delas servir a Ele.

P. 98. Não se poderiam tolerar as imagens nas igrejas como livros para os leigos?

R. Não. Pois não devemos ser mais sábios que Deus, que quer ensinar os seus cristãos não por imagens mudas, mas sim pela viva pregação da sua Palavra.

Domingo 36

P. 99. O que quer o terceiro mandamento?

R. Que nós não blasfememos ou façamos mau uso do nome de Deus, nem por maldições ou perjúrios, nem por juramentos desnecessários, e também que não participemos de tais pecados abomináveis, assistindo calados. Em resumo, que não usemos o santo Nome de Deus a não ser com respeito e reverência, para que Ele seja devidamente confessado, invocado e louvado com todas as nossas palavras e ações.

P. 100. Então blasfemar o Nome de Deus através de juramentos e maldições é um pecado tão grave que Deus se torna irado com aqueles que não fazem todo o possível para combater e proibir as maldições e juramentos?

R. Sim, pois não há pecado maior e que mais provoque a ira de Deus que blasfemar o seu Nome. Por isso Ele ordenou que tal pecado fosse punido com a morte.

Domingo 37

P. 101. Mas não pode-se fazer juramento pelo Nome de Deus na fé?

R. Sim, caso as autoridades assim o exigirem dos seus súditos ou quando por outras razões for necessário para confirmar fidelidade e verdade, e isto para a honra de Deus e para o bem do próximo. Pois este juramento está baseado na Palavra de Deus e portanto, foi usado com razão pelos santos no Antigo e Novo Testamento.

P. 102. Pode-se também jurar pelos santos ou outras criaturas?

R. Não, pois fazer um juramento legítimo é invocar a Deus, que Ele, conhecedor único do coração, faça aparecer a verdade e me castigue caso jure falso. E tal honra não cabe a qualquer criatura.

Domingo 38

P. 103. O que Deus ordena no quarto mandamento?

R. Primeiramente, que o culto da Igreja ou pregação e o ensino cristão sejam mantidos; e que especialmente no dia de descanso, eu venha fielmente à congregação de Deus para ouvir a Palavra de Deus, participar dos Sacramentos, invocar publicamente o Senhor Deus e prestar assistência cristã aos pobres.

Em segundo lugar, que eu todos os dias da minha vida desista das minhas más obras, deixe o Senhor operar em mim através do seu Espírito e dessa forma inicie o sábado eterno nesta vida.

Domingo 39

P. 104. O que Deus quer no quinto mandamento?

R. Que eu demonstre toda honra, amor e fidelidade ao meu pai e à minha mãe e a todos que foram constituídos sobre mim e me sujeite com devida obediência aos seus bons ensinos e disciplina e também tenha paciência com suas falhas, visto que é da vontade de Deus governar-nos através deles.

Domingo 40

P. 105. O que Deus exige no sexto mandamento?

R. Que eu mesmo ou através de outros não desonre, odeie, magoe ou mate o meu próximo com pensamentos, palavras ou gestos, e muito menos com ações; mas que renuncie a todo o sentimento de vingança, e também não cause mal a mim mesmo ou me exponha propositadamente ao perigo. Por isso a autoridade traz a espada para combater homicídios.

P. 106. Mas este mandamento não trata apenas de homicídios?

R. Proibindo o homicídio, Deus nos ensina também que Ele abomina a raiz do homicídio, tal como a inveja, ódio, ira e sentimentos de vingança, e que para Ele tudo isso equivale ao homicídio.

P. 107. Basta então, não matarmos o nosso próximo, conforme foi dito?

R. Não, pois proibindo a inveja, ódio e ira, Deus nos ordena amar o nosso próximo como a nós mesmos e demonstrar-lhe paciência, paz, mansidão, misericórdia e benignidade, evitar ao máximo que sofra danos, sim, mesmo fazer o bem aos nossos inimigos.

Domingo 41

P. 108. O que nos ensina o sétimo mandamento?

R. Toda falta de castidade é amaldiçoada por Deus e por isso temos que detestá-la de coração e levar vidas castas e disciplinadas, quer no santo estado do matrimônio ou fora dele.

P. 109. Deus proíbe neste mandamento apenas o adultério e semelhantes pecados vergonhosos?

R. Como os nossos corpos e almas são santuários do Espírito Santo, Ele quer que nós guardemos ambos puros e santos e por isso Ele proíbe todos os atos, gestos, palavras, pensamentos e desejos impuros e aquilo que pode levar o homem a tanto.

Domingo 42

P. 110. O que Deus proíbe no oitavo mandamento?

R. Deus não proíbe apenas furtar e roubar, o que as autoridades punem, mas Ele considera também como roubo todas as artimanhas e ciladas enganosas com as quais tentamos apropriar-nos dos bens do nosso próximo, quer por força ou pretexto de direito, quer por falsificações de pesos, medidas, mercadorias ou moedas, por usura ou qualquer meio que Deus tenha proibido. Ele proíbe tanto a avareza como todo mau uso e desperdício dos seus dons.

P. 111. O que Deus ordena neste mandamento?

R. Que eu promova os interesses do meu próximo conforme as minhas possibilidades e que o trate como gostaria que eu mesmo fosse tratado. Além disso, que me esforce fielmente para também poder auxiliar os necessitados.

Domingo 43

P. 112. O que quer o nono mandamento?

R. Que não diga falso testemunho contra ninguém, não distorça as palavras de ninguém, não seja um difamador ou caluniador, não condene ou deixe condenar alguém levianamente e sem ouvi-lo, mas evite toda sorte de mentiras e engano como sendo verdadeiras obras do diabo para não trazer sobre mim a pesada ira de Deus. Da mesma forma, que em julgamentos e em todas as outras questões ame a verdade e me manifeste publicamente a seu favor e que defenda e promova a honra e boa fama do meu próximo naquilo que estiver ao meu alcance.

Domingo 44

P. 113. O que o décimo mandamento exige de nós?

R. Que mesmo a mínima inclinação ou pensamentos conflitantes com um dos mandamentos de Deus não podem surgir nunca em nosso coração, mas que nós sempre e de todo o coração abominemos todos os pecados e amemos toda a justiça.

P. 114. Aqueles que se converteram a Deus conseguem guardar plenamente estes mandamentos?

R. Não, mesmo nas pessoas mais santas, enquanto estiverem nesta vida, existe apenas um pequeno princípio desta obediência, porém iniciam com um firme propósito viver não apenas conforme alguns mandamentos de Deus, mas conforme todos.

P. 115. Por que então Deus manda pregar os Dez Mandamentos tão rigorosamente, se ninguém logra cumpri-los nesta vida?

R. Em primeiro lugar, para que busquemos com maior desejo o perdão dos pecados e a justiça em Cristo.

Segundo, para que nos dediquemos e oremos incessantemente a Deus pela graça do Espírito Santo para sermos renovados cada vez mais segundo a imagem de Deus, até atingirmos, após esta vida, a perfeição prometida.

A ORAÇÃO

Domingo 45

P. 116. Por que os cristãos necessitam da oração?

R. Porque é a parte principal da gratidão que Deus exige de nós e porque Deus quer dar a sua graça e o seu Espírito Santo apenas àqueles que em oração sinceramente e sem cessar lhe suplicam e agradecem por estes dons.

P. 117. O que é preciso para que nossa oração agrade a Deus e por Ele seja ouvida?

R. Primeiramente, que invoquemos de coração apenas o único e verdadeiro Deus que em sua Palavra se nos revelou, orando por tudo aquilo que Ele nos ordenou a pedir.

Em segundo lugar, que reconheçamos correta e profundamente a nossa desgraça e a situação angustiante em que vivemos, para que nos humilhemos diante da sua Majestade.

E em terceiro lugar que tenhamos este firme fundamento que Deus certamente quer ouvir a nossa oração, apesar da nossa indignidade, mas por causa de Cristo, o Senhor, conforme Ele nos prometeu em sua Palavra.

P. 118. O que Deus nos ordenou que Lhe pedíssemos?

R. Tudo aquilo que necessitamos para a alma e para o corpo, conforme Cristo, o Senhor, resumiu na oração que Ele mesmo nos ensinou.

P. 119. O que diz esta oração?

R. Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome; venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal, pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (Mateus 6.9-13; Lucas 11.2-4)

Domingo 46

P. 120. Por que Cristo ordenou que nos dirigíssemos a Deus com estas palavras: “Pai nosso”?

R. Para de imediato, no início da nossa oração, despertar em nós o respeito e confiança para com Deus como de uma criança, e que são o fundamento da nossa oração, a saber, que Deus se tornou nosso Pai por meio de Cristo, e que não há de negar-nos o que em oração lhe pedimos com verdadeira fé, muito menos do que os nossos pais, que não nos recusam coisas terrenas.

P. 121. Por que se acrescenta: “que estás nos céus”?

R. Para que não pensemos de forma terrena a respeito da Majestade celeste de Deus e para que esperemos da sua onipotência tudo o que necessitamos para o corpo e a alma.

Domingo 47

P. 122. Qual é a primeira petição?

R. “Santificado seja o teu Nome”. Isto quer dizer: dá-nos primeiramente que Te conheçamos de forma devida e que Te honremos, louvemos e glorifiquemos em todas as tuas obras das quais brilham claramente a tua onipotência, sabedoria, bondade, justiça, misericórdia e verdade; segundo, que voltemos toda a nossa vida: nossos pensamentos, palavras e obras para este fim que teu Nome não seja blasfemado por nossa causa mas sim, honrado e louvado.

Domingo 48

P. 123. Qual é a segunda petição?

R. “Venha o teu Reino”. Isto quer dizer: governa-nos de tal maneira com a tua Palavra e Espírito que nós nos submetamos a Ti mais e mais; guarda e aumenta a tua Igreja; destrói as obras do diabo e todo poder que se revolte contra Ti, bem como todos os maus planos que se tramem contra a tua santa Palavra, até que teu Reino venha em perfeição, onde Tu serás tudo em todos.

Domingo 49

P. 124. Qual é a terceira petição?

R. “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Isto quer dizer: faça com que nós e todos os homens renunciemos a nossa própria vontade e obedeçamos sem reclamar a tua vontade, que é a única boa existente, para que cada um cumpra o seu dever e a sua vocação com tanta disposição e tão fielmente como os anjos no céu.

Domingo 50

P. 125. Qual é a quarta petição?

R. “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Isto quer dizer: queiras suprir todas as necessidades do nosso corpo, para que assim reconheçamos que Tu és a única fonte de todo o bem e que sem a tua bênção nem o nosso cuidado e trabalho, nem os teus dons, nos aproveitam de forma alguma, e que por isso não depositemos a nossa confiança em qualquer criatura mas apenas em Ti.

Domingo 51

P. 126. Qual é a quinta petição?

R. “E perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Isto quer dizer: não imputes, pelo sangue de Cristo, a nós pobres pecadores todos os nossos delitos e a corrupção que ainda existe em nós, da mesma forma que sentimos este testemunho da tua graça em nós mesmos, tendo o firme propósito de perdoar de coração ao nosso próximo.

Domingo 52

P. 127. Qual é a sexta petição?

R. “E não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal”. Isto quer dizer: como nós mesmos somos tão fracos que não poderíamos permanecer firmes por um momento sequer e que além disso o nosso inimigo inveterado, o diabo, o mundo e a nossa própria carne não cessam de atacar-nos, queiras portanto manter-nos de pé e fortalecer-nos pelo poder do Espírito Santo, para que não sejamos derrotados neste combate espiritual, mas que resistamos sempre fortemente, até que alcancemos finalmente a vitória completa.

P. 128. Como você termina a sua oração?

R. “Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre”. Isto quer dizer: tudo isto Te pedimos, pois Tu como sendo o nosso Rei, e possuindo o poder sobre tudo, queres e tens os meios de dar-nos tudo o que é bom, e que por causa disso seja dado louvor não a nós, mas ao teu santo Nome, eternamente.

P. 129. O que significa a palavra “amém”?

R. Amém quer dizer: é assim de verdade e com certeza. Pois é bem mais certo que Deus atende a minha oração do que tenho presente em meu coração o desejo de ser atendido por Ele.

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